ensaios

 

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Eduque (se) !



"...para que resulte clara a posição educativa que defendemos, abordamos - ainda que rapidamente - esse ponto básico: o homem como um ser no mundo com o mundo.

Um ser articulado no tempo e no espaço, que sua consciência intencionada capta e transcende.

Tão somente o homem, na verdade, entre os seres incompletos, vivendo um tempo que é seu, um tempo de quefazeres, é capaz de admirar o mundo. É capaz de objetivar o mundo, de ter nesse um 'não eu' constituinte do seu eu, o qual, por sua vez, o constitui como mundo de sua consciência.
A possibilidade de admirar o mundo implica em estar não apenas nele, mas com ele; consiste em estar aberto ao mundo, captá-lo e compreendê-lo; é atuar de acordo com suas finalidades a fim de transformá-lo... As respostas do homem aos desafios do mundo, através das quais vai modificando esse mundo, impregnando-o com o seu 'espírito', mais do que um puro fazer, são quefazeres que contêm inseparavelmente ação e reflexão."


FREIRE, Paulo. Uma educação para a liberdade - textos marginais. 3ª edição. Porto, 1974.


Tela: Liberdade, de Pablo Picasso

Tome isso como um convite para mergulhar no livro todo.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Abaporu: 1ª citação

Tarsila sobre árido nu.
O medo talvez fosse me prender a uma brasilidade extrema e nela ter que me justificar. Mas esse Abaporu Pau-Brasil está em Buenos Aires e a memória corre mundo afora. World art seria então?
No mundo da música os intérpretes convidados para se apresentar na nossa tão celebrada semana de arte moderna de 1922 se dividiam entre os virtuoses, como a fantástica Guiomar Novaes fiel expositora da pianolatria paulista, e os camerísticos, como Paulina d'Ambrósio. Nas artes plásticas tínhamos a dobradinha Malfatti-Amaral. Na literatura vinha Monteiro Lobato descalço sobre os salões dos periquitos empapagaiados. Oswald e Mário de Andrade. O último bastante preocupado com a educação musical e defesa da arte nacional.

Era o Brasil para o mundo, o mundo para o Brasil.

Numa reflexão um tanto mais intimista, despretensiosa e completamente desconectada de decisões, me inspiraria nesse grande número de mulheres que conduziram um pensamento artístico-manifesto, me encontraria um pouco em Mário enquanto empenhada no processo educacional, um pouco na antropofagia de Oswald. De Tarsila o vermelho pau-brasil: o semi-árido pode virar um deserto florido de cactus.

Do que é memória e do que ainda está para construir, do que é brasileiro e do que vem do mundo, da música, das palavras e do olhar. Um amigo sugestionou: Abaporu é nome de disco.

Abracei e ganhei uma bela canção. O filho mais velho vem cru e múltiplo, sob a ilusão de ótica aberracional trazendo o que de mim vem verdadeiro. Caminha nas pernas de um andarilho sem marcas de tempo ou lugar e sem restrições nas relações. Vem de um processo de criação repleto de grandes parcerias. Um filho de tantas mães e outros pais!

Na construção de um novo Abaporu. Que nasça belo, filho meu!

Paraopeba

"Um dia eu vou com o rio ver o mar


O rio está sempre vindo, também está sempre indo.
Nunca o terei completo: não sei onde começa, não sei onde termina.
Me disseram que ele vai abraçar o mar. Tenho ciúmes do mar.



Mais uma vez o rio. Por que sempre o rio? "






Trecho extraído do livro Margem, da artista plástica Ana Amélia Diniz Camargos, que também me atende por Vó Mélia.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Caio para todos





Palavras de Caio Otta: tinta de máquina de escrever sobre tecido.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Infinito patético plural

passo em repiques
das águas de corpo escaldado

nas gélidas matas
e sólidos picos, ribeiras e ramos

no Rosa matriz

trespasso e iludo
a disritmia que se polifaz

sou olhos que regam
temores já engavetados

e se alimentam com ardor

pluriplural penetro
em outros que se estreitam em mim

no ato me mostro inábil
pareço e trans o que me sobressai

com a boca me ergo no império
e deixo entornar meus pecados

domingo, 8 de agosto de 2010

Credo



No limite da abertura aquela face que traz em sua essência a graça, inefável enquanto trâmite eterno dos homens para a gentileza, se vê, em sua mais profunda insegurança, distante um abismo dos risos. Da completude, dois abismos.
Quem sabe essa Beatriz de Alighieri não carregue em si um pouco da equilibrista de Chico? Ou o contrário, levando em conta a cronologia que nos obriga a crer que o século XIII veio antes do XX. Seriam as bestas do limbo os mestres da fera?
Réquiem para uma alma desandada, ouve a declaração, ó minha bela! Coberta de significados no imaginário comum, ela se tornou importante representante da feminilidade, que assim como quem é uno e trino, mostra em sua porta de entrada a tripla face de diabos com suas línguas divididas em três, evolução essa que nem mesmo a serpente conseguiu atingir.
Pela corda bamba ela caminha em passos muito mais lentos do que em seus vôos para os céus (pode ser que ela também tenha três asas), talvez pela espontaneidade que às vezes a pega de surpresa e a leva em viagem repentina para sua idade média. Só resta saber se o que lhe é contemporâneo acompanha aquela abertura que vimos no rosto há pouco ali em cima.



Tela de Katsushika Hokusai.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Lacerda - o rei do gado, Cristiano Bortone e Neil Armstrong.

Para o gosto dos artistas sedentos pela desmoralização do nosso prefeito, ou somente pela renovação de seu equipamento de "desconfiômetro" que já deve ser um modelo ultrapassado, eis que ontem, antes do espetáculo de abertura do FIT em pleno Grande Teatro do Palácio das Artes, Márcio Lacerda é recebido com um coro de vaias.

Talvez os que lutam pela utilização do espaço público para a popularização da cena cultural, usando a manifestação e produção artística como instrumento educador e formador de opinião, tenham mesmo esticado um pouco os lábios em direção às orelhas e trabalhado um tanto o diafragma. Esse ato principal de uma ópera tragicômica foi apresentado exclusivamente para convidados, compreendendo o nobre público de autoridades, como o presidente da Funarte, Sérgio Mamberti, o ex-prefeito Fernando Pimentel e sua esposa, quem coordena a Fundação Municipal de Cultura Thaís Pimentel, o vereador Arnaldo Godoy dentre outros.

Em seu discurso de voz e mãos trêmulas,Lacerda ainda pecou ao dizer algo parecido com "não temos praia nem beleza natural monumental, mas temos ... " blá blá blá, espaço perfeito para que a platéia começasse a gritar "e a Praia da Estação???". Nem mesmo com a equipe de acessoria ele fez boa escolha, só mesmo muito alienados para não esperar algo assim na estréia do evento que ele mesmo havia embargado.

E para encerrar a noite no grande palácio, agora sim, o lindíssimo espetáculo suíço "Donka", escolha muito bem feita pela organização do evento. Algo que talvez pela presença do diretor, me fez lembrar da síntese do cinema italiano, da dor regada a humor e poesia, gestos flutuantes e suavizados pelas paisagens entorpecidas pela trilha sonora erudita/coloquial, se é que isso pode ser colocado dessa forma. Bom, só sei que muito me agradou esse segundo movimento da noite espetacular.

Bravi ragazzi!

Já o terceiro movimento, K@osmos, na Praça da Estação, mais para Curral Del Rey (quisera eu que esse rei fosse o Roberto!), sendo os cidadãos bois e vacas naquele pasto demarcado pela cerca que nem viva era, e tocados por fazendeiros brutos e delinqüentes que se esqueceram do grave som dos berrantes, foi representado pelos astronautas da era "we are the world, we are the children". O globo do Epicot Center trazido para a nossa cidade e carregado pelo super guindaste, foi decorado com alguns movimentos robóticos que os Neils Armstrongs de mochilinha conseguiram executar.
Ironias a parte, o que poderia causar impacto pela grandeza e novidade, trouxe uma música brega a la "new age progressive" e nenhuma beleza nos movimentos dos acrobatas, que poderiam explorar muito mais levando em conta o espaço que tinham até o chão. Poucos minutos, tantos milhares de reais, poucos agrados aos olhos, nenhum conteúdo adicional ao cérebro.

"Disseram que eu voltei americanizada..."

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Sou cantora. Vezes compositora, vezes professora, vezes cozinheira. Gosto de crianças e idosos. Me apaixono e desapaixono na mesma intensidade. Escrevo para não acumular na cabeça o que penso ou fantasio. Construo: tijolo, massa, tijolo, massa, tijolo, massa, tijolo...

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