quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Eduque (se) !



"...para que resulte clara a posição educativa que defendemos, abordamos - ainda que rapidamente - esse ponto básico: o homem como um ser no mundo com o mundo.

Um ser articulado no tempo e no espaço, que sua consciência intencionada capta e transcende.

Tão somente o homem, na verdade, entre os seres incompletos, vivendo um tempo que é seu, um tempo de quefazeres, é capaz de admirar o mundo. É capaz de objetivar o mundo, de ter nesse um 'não eu' constituinte do seu eu, o qual, por sua vez, o constitui como mundo de sua consciência.
A possibilidade de admirar o mundo implica em estar não apenas nele, mas com ele; consiste em estar aberto ao mundo, captá-lo e compreendê-lo; é atuar de acordo com suas finalidades a fim de transformá-lo... As respostas do homem aos desafios do mundo, através das quais vai modificando esse mundo, impregnando-o com o seu 'espírito', mais do que um puro fazer, são quefazeres que contêm inseparavelmente ação e reflexão."


FREIRE, Paulo. Uma educação para a liberdade - textos marginais. 3ª edição. Porto, 1974.


Tela: Liberdade, de Pablo Picasso

Tome isso como um convite para mergulhar no livro todo.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Abaporu: 1ª citação

Tarsila sobre árido nu.
O medo talvez fosse me prender a uma brasilidade extrema e nela ter que me justificar. Mas esse Abaporu Pau-Brasil está em Buenos Aires e a memória corre mundo afora. World art seria então?
No mundo da música os intérpretes convidados para se apresentar na nossa tão celebrada semana de arte moderna de 1922 se dividiam entre os virtuoses, como a fantástica Guiomar Novaes fiel expositora da pianolatria paulista, e os camerísticos, como Paulina d'Ambrósio. Nas artes plásticas tínhamos a dobradinha Malfatti-Amaral. Na literatura vinha Monteiro Lobato descalço sobre os salões dos periquitos empapagaiados. Oswald e Mário de Andrade. O último bastante preocupado com a educação musical e defesa da arte nacional.

Era o Brasil para o mundo, o mundo para o Brasil.

Numa reflexão um tanto mais intimista, despretensiosa e completamente desconectada de decisões, me inspiraria nesse grande número de mulheres que conduziram um pensamento artístico-manifesto, me encontraria um pouco em Mário enquanto empenhada no processo educacional, um pouco na antropofagia de Oswald. De Tarsila o vermelho pau-brasil: o semi-árido pode virar um deserto florido de cactus.

Do que é memória e do que ainda está para construir, do que é brasileiro e do que vem do mundo, da música, das palavras e do olhar. Um amigo sugestionou: Abaporu é nome de disco.

Abracei e ganhei uma bela canção. O filho mais velho vem cru e múltiplo, sob a ilusão de ótica aberracional trazendo o que de mim vem verdadeiro. Caminha nas pernas de um andarilho sem marcas de tempo ou lugar e sem restrições nas relações. Vem de um processo de criação repleto de grandes parcerias. Um filho de tantas mães e outros pais!

Na construção de um novo Abaporu. Que nasça belo, filho meu!

Paraopeba

"Um dia eu vou com o rio ver o mar


O rio está sempre vindo, também está sempre indo.
Nunca o terei completo: não sei onde começa, não sei onde termina.
Me disseram que ele vai abraçar o mar. Tenho ciúmes do mar.



Mais uma vez o rio. Por que sempre o rio? "






Trecho extraído do livro Margem, da artista plástica Ana Amélia Diniz Camargos, que também me atende por Vó Mélia.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Caio para todos





Palavras de Caio Otta: tinta de máquina de escrever sobre tecido.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Infinito patético plural

passo em repiques
das águas de corpo escaldado

nas gélidas matas
e sólidos picos, ribeiras e ramos

no Rosa matriz

trespasso e iludo
a disritmia que se polifaz

sou olhos que regam
temores já engavetados

e se alimentam com ardor

pluriplural penetro
em outros que se estreitam em mim

no ato me mostro inábil
pareço e trans o que me sobressai

com a boca me ergo no império
e deixo entornar meus pecados

domingo, 8 de agosto de 2010

Credo



No limite da abertura aquela face que traz em sua essência a graça, inefável enquanto trâmite eterno dos homens para a gentileza, se vê, em sua mais profunda insegurança, distante um abismo dos risos. Da completude, dois abismos.
Quem sabe essa Beatriz de Alighieri não carregue em si um pouco da equilibrista de Chico? Ou o contrário, levando em conta a cronologia que nos obriga a crer que o século XIII veio antes do XX. Seriam as bestas do limbo os mestres da fera?
Réquiem para uma alma desandada, ouve a declaração, ó minha bela! Coberta de significados no imaginário comum, ela se tornou importante representante da feminilidade, que assim como quem é uno e trino, mostra em sua porta de entrada a tripla face de diabos com suas línguas divididas em três, evolução essa que nem mesmo a serpente conseguiu atingir.
Pela corda bamba ela caminha em passos muito mais lentos do que em seus vôos para os céus (pode ser que ela também tenha três asas), talvez pela espontaneidade que às vezes a pega de surpresa e a leva em viagem repentina para sua idade média. Só resta saber se o que lhe é contemporâneo acompanha aquela abertura que vimos no rosto há pouco ali em cima.



Tela de Katsushika Hokusai.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Lacerda - o rei do gado, Cristiano Bortone e Neil Armstrong.

Para o gosto dos artistas sedentos pela desmoralização do nosso prefeito, ou somente pela renovação de seu equipamento de "desconfiômetro" que já deve ser um modelo ultrapassado, eis que ontem, antes do espetáculo de abertura do FIT em pleno Grande Teatro do Palácio das Artes, Márcio Lacerda é recebido com um coro de vaias.

Talvez os que lutam pela utilização do espaço público para a popularização da cena cultural, usando a manifestação e produção artística como instrumento educador e formador de opinião, tenham mesmo esticado um pouco os lábios em direção às orelhas e trabalhado um tanto o diafragma. Esse ato principal de uma ópera tragicômica foi apresentado exclusivamente para convidados, compreendendo o nobre público de autoridades, como o presidente da Funarte, Sérgio Mamberti, o ex-prefeito Fernando Pimentel e sua esposa, quem coordena a Fundação Municipal de Cultura Thaís Pimentel, o vereador Arnaldo Godoy dentre outros.

Em seu discurso de voz e mãos trêmulas,Lacerda ainda pecou ao dizer algo parecido com "não temos praia nem beleza natural monumental, mas temos ... " blá blá blá, espaço perfeito para que a platéia começasse a gritar "e a Praia da Estação???". Nem mesmo com a equipe de acessoria ele fez boa escolha, só mesmo muito alienados para não esperar algo assim na estréia do evento que ele mesmo havia embargado.

E para encerrar a noite no grande palácio, agora sim, o lindíssimo espetáculo suíço "Donka", escolha muito bem feita pela organização do evento. Algo que talvez pela presença do diretor, me fez lembrar da síntese do cinema italiano, da dor regada a humor e poesia, gestos flutuantes e suavizados pelas paisagens entorpecidas pela trilha sonora erudita/coloquial, se é que isso pode ser colocado dessa forma. Bom, só sei que muito me agradou esse segundo movimento da noite espetacular.

Bravi ragazzi!

Já o terceiro movimento, K@osmos, na Praça da Estação, mais para Curral Del Rey (quisera eu que esse rei fosse o Roberto!), sendo os cidadãos bois e vacas naquele pasto demarcado pela cerca que nem viva era, e tocados por fazendeiros brutos e delinqüentes que se esqueceram do grave som dos berrantes, foi representado pelos astronautas da era "we are the world, we are the children". O globo do Epicot Center trazido para a nossa cidade e carregado pelo super guindaste, foi decorado com alguns movimentos robóticos que os Neils Armstrongs de mochilinha conseguiram executar.
Ironias a parte, o que poderia causar impacto pela grandeza e novidade, trouxe uma música brega a la "new age progressive" e nenhuma beleza nos movimentos dos acrobatas, que poderiam explorar muito mais levando em conta o espaço que tinham até o chão. Poucos minutos, tantos milhares de reais, poucos agrados aos olhos, nenhum conteúdo adicional ao cérebro.

"Disseram que eu voltei americanizada..."

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Para o jantar

- Ô moço! Me traz o cardápio, por favor?

- Um minuto, senhora.

(tic tac tic tac)

- Aqui, senhora. Se me permite, posso sugerir um prato?

- Claro!

- A picanha de urso é exclusividade da casa.

- É mesmo? Curioso. Me venha então, ao ponto!


Após esse jantar magnífico fui surpreendida por uma doença parasitária, a Triquinose. A carne de urso, nem mesmo bem passada deve ser consumida. O parasita também sobrevive ao congelamento. Tive náuseas, dor nas articulações, dor de estômago, coceira e calafrios. Ela só poderia ser consumida se a temperatura de cozimento interno da carne fosse superior a 70ºC, quem controla isso?

O Ministério da Saúde adverte...

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Ação e reação

Em sentidos opostos.

Corpo tal sobre qual, tal e qual fazem.

Força.

Mesma intensidade.

Igual direção.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Através do sentido múltiplo


Pelo canto do olho esquerdo notei que passava um homem menino, menino homem que esbanjava dentes.
Enquanto se punha ali o resto do dia a subderme de mim camaleoa se sentia mordida.

Era veneno transeunte.

Intravenoso desde que aquele naco de maçã podre, de fruta virou gesto.
Ode ao deleite pelo ínfimo disfarçado na volúpia bruta.
Pedra sabão jamais viraria cinzeiro.

Me perguntei em certo ponto quantos corpos precisariam para dar as braçadas sinestésicas nos rios de nascentes diversas, que desembocam num mesmo mar.

Talvez de morros, para escalar os fios que se levantam altos no cumprimento.

Jogo de gente grande tem escanteio.
Já adormecera em pontas de estalactites gigantes.



Tela: Edvard Munch, Løsrivelse, 1896.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Por que não bolhas de sabão?

Eu estava de costas, e uma senhora, de frente. Eu tomava um suco de laranja no copo, e ela almoçava um prato cheio. Quando vi aquelas bolhas de sabão comecei a rir, achando quase surreal em plena tarde, depois de um dia chato, um momento completamente lúdico. A senhora, entretanto não queria saber daquilo, talvez ela já tivesse anos a mais de amargura ou fosse pagar mais caro pelo que consumia no restaurante. "Esse idiota soprando sabão e o vento trazendo essa porcaria pra minha comida! E eu pensando que era uma criança.".

Um senhor de uns 70 anos passava com o brinquedo, soltando de fato muitas bolhas que salvaram o dia de várias pessoas que presenciaram aquele momento! Meu sorriso aumentou um tiquinho. Quando ele ia atravessando a rua e se distanciando, a velha lança mais uma "vai embora logo, mané!".

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Pela porta da frente

As palavras guardadas omitem, não mentem, mas aquelas que preferem ser ditas são selecionadas uma a uma para que haja ali, o diálogo. Se pudesse só me voltaria para você, falaria o tempo todo para que em algum momento você quisesse retrucar e eu teria a chance de saber quais das suas palavras queriam vir até mim. Nós.

Seria isca, abocanhada por seu uivo de lobo faminto pelo assobio de meu sabiá. Ou teria meu corpo afivelado por um simples giro que sem grandes dificuldades permitiria que tivéssemos pernas com coxas, braço com seios, costas com barriga, pés com pés. Mãos atadas.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

De frente a noroeste do tórax


Cabisbaixo como se andasse há algumas horas sem uma gota d'água, ele insiste na sua caminhada. Ele crê que as promessas, mesmo aquelas que nunca foram compartilhadas com ninguém e que tenham somente virado uma idéia, devam ser cumpridas. E essa foi uma delas. Um dia pensou que deveria caminhar desde sua casa até um lugar que lhe causasse muito desconforto e muita dor. Acordou, calçou um bom pisante e seguiu viagem.
A dor já se manifestou de tantas outras formas que ele não consegue encontrar um lugar que comporte tantas sensações terríveis a ponto de deixá-lo mais insuportável do que já esteve antes. As contrações que vão e vem são apenas forças naturais que o mantém vivo e circulante, não são retratos do sofrimento extremo.
Caminhou mais quatro horas sem água, até que encontrou uma garrafa com um líquido transparente e borbulhante e não aguentou a secura de seus lábios e sua saliva branca e espumada já mostrara que o corpo carecia de um gole. E foi um só gole, porque não suportou mais do que esse tanto. Se não é a dor, de qualquer outra coisa que lhe apareça, o mínimo basta para que continue andando.
Os pés já estavam cansados e os olhos ardendo de sono, até que ele caiu numa gaveta lotada de sabores e cheiros que para ele pareciam comuns, mas que não sabia reconhecer de onde vinham e o que foram para ele. E sua caminhada virou uma corrida desesperada atrás dessas memórias que haviam desaparecido parcialmente, mas que ele sabia que já haviam significado maravilhas e que agora era a vez da dor. Precisava se livrar dessa memória recente, dos cheiros e sabores.
A proximidade com as meias lembranças prolongaram ainda mais a busca e a caminhada parecia não ter mais fim. Quando ele pensou na possibilidade de sentir coisas boas durante sua promessa, a barriga começou gritar de fome, a bexiga começou a torcer, os pulmões alfinetavam o sufoco e a cabeça partiu ao meio. Era metade abismo, metade nuvem.
Seus passos foram desacelerando e ele viu que naquele momento estava abandonando a caminhada. Ele se sentou dentro da gaveta, tomou o resto daquele líquido da garrafa e começou a chorar. Sua bravura e a necessidade pela dor naquele instante se saciaram, pois foi exatamente ali que ele sentiu a maior dor de sua vida. O que lhe causava aquilo era o mesmo que lhe causara êxtase. Tudo virou abismo, até porque as nuvens correm, viram água, mudam de cor, são bichos e astros. Tudo era tão preto que lhe pareceu um bom momento para dormir. O sono durou três dias. Quando acordou resolveu levantar e voltar pra casa, pois se queria sentir dor, a promessa já era e não havia tempo para viver só essa, muitas outras ainda o esperavam para ser cumpridas.
Tirou os pisantes desgastados, estalou o corpo, tomou um banho longo, alimentou-se e já colocou a cabeça para gerar novas idéias, mais e mais promessas para ele continuar bombeando.



Tela: "Rooms by the sea" de Edward Hopper, 1951.

Shows

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Língua

OS SABORES SÃO DISTINTOS CONFORME O PALADAR

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Me...

...joga no absurdo
...arrasta pela rua
...enforca sem matar
...vomita se enjôa

...grita por socorro
...lança pro abismo
...morde pela ponta
...arremessa no espaço

nua.


ainda ... quer

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A céu aberto

Só pediria pra voar se fosse além de cem mil pés
Que não tem nuvem, não tem chuva pra molhar
O dia é sempre azul, a noite varre a escuridão
Tem tanto ponto que se perde sem cessar

Se pisca e pára pra pensar bem logo vem outro clarão
Que nem dá tempo de sofrer a solidão
Só pediria pra voar se fosse além dessa estação
Pra ver de novo como existe a imensidão


Já mencionou o que convém, mas não pediu o que ficou
Que foi um pouco do que nunca quis nem ver
Do nada quer um só refrão de um só verso que lhe diz
Que vem na alma seu pedido: exclamação!

Se pede pouco é porque sabe que ali mora o seu cordão
Que o infinito só produz competição
Quando vê tanto olho nu só nada às vestes do seu par
Que é só um, mas vive por lhe reparar

Mas quando insiste em parar é porque vê que pode ser
Que haja ar n’outro verão longe daqui

sexta-feira, 7 de maio de 2010

presente regresso

Estudando a fundo o comportamento das crianças em todas as idades da infância, pude ver como "a criança que existe dentro de nós" pode manifestar na vida adulta. Deixo abaixo, um pouco desse início, da primeiríssima infância para reflexão de cada um sobre como passamos a vida sem amadurecer certos comportamentos, mesmo que os personagens dessa nossa história sejam inconstantes, que mudem ao longo do nosso processo.

No primeiro ano de vida a criança desenvolve uma proximidade com a mãe de forma que as outras distrações são superficiais e passageiras. Mesmo que o bebê se interesse por outra pessoa ou que desvie o olhar quando escuta algum som, a voz, o corpo, o cheiro, o olhar e o carinho da mãe são praticamente uma extensão do bebê. Nos primeiros meses,ele inclusive não sabe distinguir o que lhe é externo. Não sabe, por exemplo, que a água do banho não faz parte do seu corpo. Ou seja, para o neném, ele e a mãe são a mesma pessoa.

No segundo ano de vida, a criança passa a compreender muita coisa, mas não necessariamente consegue executar o que entende, não associa o sensorial com o operacional. Quando os pais vêem que o filho entende muitas das ordens passam a cobrar dele a execução de um comando externo (a ordem) para um comando interno (como a fome, a vontade de fazer xixi).

Bastante pano pra manga.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Ainda incompreendido

Tem uma série de coisas que não compreendo. A começar pelas filas gigantes que as pessoas com até 15 volumes preferem enfrentar no supermercado ao invés de esperar um cara com o carrinho cheio passar e pagar suas compras. Não compreendo porque uma pessoa para parar em sua vaga na garagem, prefere fazer mil manobras para virar no caminho se ela poderia simplesmente passar pelas duas vagas que estão sempre livres (ao lado da passagem estreita!) e só estacionar.

Já tentei girar em torno de mil fantasias para justificar, mas não compreendo porque as pessoas alimentam o carinho de outras se não querem nem mesmo saber se elas estão bem (o famoso banho maria...). Ou compreender o porquê de elogios falsos quando o silêncio bastaria. E aquele abraço forte naquela pessoa que você acabou de meter o pau e agora diz “Poxa, bom demais te ver, cara! Vê se aparece mais!”.

Intriga-me não entender porque o tesão acaba por uma pessoa que poderíamos amar pro resto da vida.

Quando eu estaciono o carro dentro da faixa pontilhada e o cara da loja em frente me fala "Ô, dona, não pode parar aí não, se você deixar o carro eu vou chamar o pessoal para te multar e seu carro vai ser rebocado!", eu de cara respondo a ele que a rua é pública e por lei ele não pode tomar mais do que seu espaço de garagem para fazer do passeio vagas para os clientes e que a multa viria para o estabelecimento. A discussão nunca dura mais do que esse argumento. Não entendo como as pessoas simplesmente dão ouvidos ao idiota que as impede de qualquer direito de usufruto da cidade, como cidadãs dela. Assim como não compreendo como um evento num espaço público, por exemplo, num parque municipal, tem a cara de pau de cobrar 10 reais (meia!) só para que as pessoas possam entrar lá. Não entendo porque elas não vêem que isso implica na exclusão de uma parcela enorme de espectadores.

Não entendo algumas coisas naturais, do tipo, porque eu nunca peguei um bicho de pé se viajo para a praia todo ano e fico andando descalço por um mês inteiro, enquanto as pessoas que estão comigo só faltam colecionar os bichinhos num pote de vidro. Ou porque vomito 5 vezes nas curvas da serra de Petrópolis, mas fico intacta com uma garrafa de cachaça na barriga.

Não entendo porque alguns fatos me inspiram e outros me deprimem, mesmo tendo a mesma intensidade melancólica. Já tentei dormir na claridade ou em lugares muito barulhentos, mas nunca consegui. Não compreendo como certas pessoas dormem em qualquer situação.

Não entendo porque me apaixono por certos homens.

Qualquer forma direta ou indireta de violência, nunca enxergo a necessidade. Como não compreendo a falta de cuidado e maltrato exatamente com as pessoas com que mais temos intimidade e amor. As mães costumam ser as que mais sofrem desse mal por parte dos filhos toscos que acham que tem toda a liberdade do mundo para falar o que quiserem e do jeito que quiserem com elas. Não entendo!

Tem muita coisa que não compreendo, ainda na cabeça, muitas outras coisas!

sábado, 1 de maio de 2010

cuidado desmedido


Elas ainda estão lá fora, e eu, indiferente. Talvez eu nunca saiba se as libertei ou abandonei...
Tentei salvar minhas flores mesmo desconhecendo suas necessidades.
Por uma semana as aguei todos os dias e quando o sol não estava tão forte, as levava para passear na varanda. Mas isso já foi uma forma de me redimir com elas, pois vi que as flores e folhas estavam desbotando. Com suas cores perdendo essa vitalidade presumi que na sala elas não estavam fazendo fotossíntese direito.
Na semana seguinte resolvi aguar a cada dois dias, mas na verdade não consegui notar diferença nas flores, que por aí já estavam meio murchas, marrons. Inteiras só estavam as folhas, o que não me entristeceu porque sei que as flores têm um ciclo e brotam novamente desde que a planta permaneça viva.
Na terceira semana não aguei. Queria ver se o excesso de água as maltratava, mas vi que sete dias foram muitos. Elas quase não tinham força nem nas folhas, então desisti. Resolvi deixá-las ao natural na varanda, sujeitas à qualquer coisa que o tempo pudesse trazer: chuva, sol, vento.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

num dia de chuva... pá!

-Maria: miga e aí cumé q está?? Tudo bien agora?? Cê mofou flor??

-eu: mofei não! rs!
mas essa semana tá esquisita, parece que a cidade tá toda estranha, por conta da chuva
tudo funcionando pelas metades
as ruas fedendo
eu produzi pouco esses dias, tá difícil concentrar

-Maria: produza algo sobre isso
acho super válido

-eu: é... pode ser mesmo

-Maria: relatar os fatos como cidadã do Rio, que passou por tudo na pele

-eu: uai, vou pensar!!

-Maria: pode ser bom!Na verdade daria uma boa letra de RAP, né?! kkkkk!

-eu: Daria! Vou fazer!

No Rio de Janeiro...

-Maria: ando pelas ruas...

-eu:chove água, chove dor...

-Maria: o mal cheiro se alastra...



Ando pelas ruas...

O mal cheiro se alastra...

No Rio de Janeiro
Chove água, chove dor
Não sei se te alimenta
Ver o povo sofredor

Eu quero me livrar
O quanto antes do terror
Não posso ver a gente
Ver as mortes ao redor

Isso que entra pelas portas
Janelas e pelas frestas
E até mesmo o Redentor
Meu Deus, mas que fedor!

Me engana, ó Cabral!
Mas seu povo tá de mal
Se meu céu não vai abrir
Você tem que construir

Não sei o que te resta
Não sei quem vai te livrar
Sua cara me molesta
Essa chuva vai capar!

Carrego o corpo em curva
Quando vejo a água turva
Reflito sobre o tempo
Quando sei que não agüento

Já vi que desse morro
Só a lama sobrevive
Não me venha com esporro
Essa casa eu já tive

Se culpa a construção
ou lixo que libero
Mas hoje, um dia em vão
E tu me tenta com esmero



Por Laura Lopes e Marah Costa

Meu prato preferido

Frango com palmito.

Listo os ingredientes, mas sem medidas:

Frango inteiro, palmito fresco (muito), cebola (muita), alho (muito), sal, óleo, salsinha, cebolinha, caldo de galinha, e demais temperos que quiser!

Limpar o frango e deixar de molho em água com meia xícara de vinagre e 2 a 3 limões por 1 hora (isso tira o cheiro, o ranço de frango abatido!). Escorrer , lavar os pedaços e em seguida apertar com a mão(forte, mas sem deixar sair pedacinhos de frango por entre os dedos...) para tirar toda água. Temperar com sal, alho e pimenta (claro, os melhores temperos do mundo). Refogar com óleo, deixar dourar e ir pingando água (bem pouco) para não grudar. Tirar o frango da panela e reservar (tampe para não deixar bichinhos pousando na sua comida).
Na mesma panela (sim, para pegar aquele gostinho da borra... hummmm!)colocar cebola ralada, alho amassado e deixar dourar. Colocar água quente e um cubo de caldo de galinha e deixar ferver. À parte, aferventar (somente em água mesmo)o palmito fresco picado em pedaços regulares (fica mais bonito e o cozimento não altera de um pedaço pra outro). Escorrer.
Refogar cebola ralada com alho na manteiga e outros temperos (mais cebola, mais alho!!!). Colocar o frango no caldo que já estava fervendo, acrescentando o palmito que já estava refogado. Deixar ferver um pouco (pouco, pois o palmito não pode desmanchar) para pegar o gosto do frango e, na hora de servir colocar cebolinha e salsinha.

* A Cleusa cozinhou ao lado de minha avó por cerca de 25 anos. Lembrei dela hoje, pois tive uma vontade louca de comer esse frango. Em seguida, lembrei que minha mãe uma vez tinha me enviado essa receita. Achei que algumas partes careciam de observações...

Vai para quem gosta de acabar chupando os ossos!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Como um mutante romântico

Será que somos tão mimados a ponto de querer o que não nos aceita? Que luxo, não? Pensar que o que se constrói e enfim se consolida, cai porque um de nós opta pelo objeto rejeitante. Sim, acredito que o carburante seja mesmo a conquista, a sedução, a crença de que devemos abraçar tudo e todos que pudermos. Esse é o retrato da juventude na contemporaneidade, da falsa liberdade, da obsessão pelo múltiplo. O desdém é o melhor tempero dessa mistureba toda, que perigo! Quem se abrir e se entregar já pode planejar o fim, porque ninguém mais acredita na construção. E somos todos passageiros, flashs na vida de até mesmo aqueles que nos fazem juras.
Ai, meus amores! Quem sou eu para vos desejar para a vida toda? Ou só para achar que desejarei?! Para querer viver a intensidade e inteireza, para querer em algum momento criar uma bolha ao nosso redor e amar só a você, e depois ao outro, e ao outro? Para querer transar, trepar e ainda fazer amor todas as manhãs?
Estamos virando vários seres quase felizes, quase amados e amantes. Sempre à beira. Na loucura, no amor e nas vivências somos os marginais do descontrole, mas no fim somos todos sãos e capazes de decisão. E que sanidade é essa que opta pelas frações? A solidão é uma constante infeliz e a solitude é intermitente. Pena não sermos credores do mundo e dos terráqueos fantasiosos, eles poderiam nos oferecer respeito e cuidado. Poderíamos até ser parceiros de alguma forma e nos acrescentar cada vez mais.
Acho que para isso o centro tinha que ser mais instável, às vezes um pouco mais acima, ou mais a direita e os olhares se moveriam para lá e para cá. Eles se cruzariam de verdade...

sábado, 24 de abril de 2010

Uma paixão em forma de choro

Se essa canção não pode ser somente sua
Peço que me pare agora pois não posso escrever
De minha boca já saíram tantos versos
Que disfarço em outros choros que deixei de oferecer


Quem foi que disse que o desejo já foi lava
Já foi pó, mas que já fora, que ele agora nada é?
Descomedida faço bloco em sua marcha
Que meu corpo apita a farsa de jamais te esquecer


Aviso o amor que já deixei de me importar
Com a grandeza em minha prosa à rigidez de seu olhar
Na minha vez de ser a pluma em seus braços
Ser a vela à escuridão virei um fardo em suas mãos


Adeus amante, meu irmão, meu samba a dois já não tem vez
Seu gancho espera mais um passo a resolver
Adeus amante, meu irmão, meu samba a dois já não tem vez
Seu gancho espera mais um passo a resolver

Auto da barca do inferno vol.II

Enquanto isso, a tempestade provoca ondas tão altas que eu, aqui dentro do barco, só sinto vontade de vomitar. Tento concentrar no horizonte, pois dizem que quem tem enjôos freqüentes e anda de barco, tem que ficar de olho naquela estabilidade.
Cheguei a tentar convencer o grupo a fazer a caminhada de algumas horas, que seria gratuita e sem problemas de labirintite, mas eles são tão preguiçosos que preferem pagar uma nota preta para não fazer esforço algum. Eu até faria a caminhada sozinha para não passar aquele mal de novo, mas se a maré enchesse e eu tivesse que passar pelo mangue, teria problemas com o lamaçal e precisaria de uma mão ou só de alguém para notificar o posto de saúde que eu tinha sido mordida por uma anaconda gigante.
Reconheço que estar só também tem seus perigos e que não sou lá tão aventureira assim, mas ter que subir nesse barco contra a minha vontade me deixa maluca.
Só não passo mal quando vou pelo rio, que não balança quase nada. No mar é tiro e queda, e fui eu mesma que optei por viver nele e ter que sacudir nessas ondas turbulentas.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Margem

Pela margem de um rio nunca passa a mesma água. Quando a terra anseia seca e enfim se banha, é o tempo de ela se molhar, se reconhecer naquela engrenagem e a água vaza rio adentro. Dali não vem mais a mesma água. Vem outra. A próxima vem mais turva, ou menos. Mais fria, ou quente. Mais ou menos densa.
A margem, no entanto guarda e mescla. É nela que a água turva que passou morna se mistura com aquela límpida e fria. Mas a memória da margem se limita às mudanças do tempo, aos fenômenos naturais. A tempestade troca as águas da terra ou até mesmo as faz escoar para o fundo do rio, assim como o sol e a falta de vento ou as mudanças da maré (caso o rio desemboque no mar) podem fazer com que por um momento a terra seque e nenhuma água a banhe.
Aquele é só um dos pontos da extensa margem do rio.

About Me

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Sou cantora. Vezes compositora, vezes professora, vezes cozinheira. Gosto de crianças e idosos. Me apaixono e desapaixono na mesma intensidade. Escrevo para não acumular na cabeça o que penso ou fantasio. Construo: tijolo, massa, tijolo, massa, tijolo, massa, tijolo...

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